Participação é a palavra-chave dos jovens da Rede Não Bata, Eduque

Os mobilizadores da Rede Não Bata, Eduque (RNBE) têm mergulhado intensamente no universo da participação. Três eventos recentes marcaram de forma única a trajetória de encontros e aprendizados.

Conferência Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente do Rio de Janeiro

A RNBE levou o grupo de mobilizadores para a Conferência Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Eles acompanharam e decidiram os passos do evento desde a organização até a realização em outubro, junto com outros jovens e profissionais.  

Durante dois dias, foram elaboradas propostas contemplando cinco eixos, entre os quais “Garantia dos Direitos e Políticas Públicas e Inclusão Social”; “Prevenção e Enfrentamento da Violência Contra Crianças e Adolescentes”; “Orçamento e Financiamento das Políticas para Crianças e Adolescentes”; “Participação, Comunicação Social e Protagonismo de Crianças e Adolescentes” e “Espaços de Gestão e Controle Social das Políticas Públicas de Promoção, Proteção e Defesa das Crianças e Adolescentes”.

Para as duas delegadas e mobilizadoras Rebeca Cassiano e Rosaria Silva, a experiência de votar e ter voz foi muito positiva, mas nem todos os adolescentes puderam ter a mesma oportunidade. “Foi bom pra mim, mas muitas pessoas não conseguiram participar porque o microfone não era aberto”, contou Rebeca.

“Havia mais adultos do que adolescentes. Eles não deixavam a gente falar. Eu e Ana Izabel [outra colega da Rede] fomos facilitadoras em um dos eixos. Chegamos lá, falaram que só tínhamos que cuidar do tempo. Que eu saiba ser facilitadora não é isso”, desabafou Rosária sobre a vivência que teve para além de ser delegada na Conferência.

Apesar das críticas, foi um grande momento para aprender. “Houve algumas ‘tretas’ lá e a gente conseguiu resolver. A gente, adolescente, conversando com os adultos, se mobilizou e resolveu”, disse Rebeca, se referindo à incidência dos jovens para preencher com adolescentes, em vez de adultos, as vagas de delegados que restavam.

“O que eu levo de lição da Conferência é que devemos trabalhar junto com os adultos, na mesma linha e não ‘um em cima do outro’”, completou Ana Izabel.

A RNBE levará três delegadas (Rebeca, Rosária e Thamires Guedes, a educadora do grupo) para a Conferência Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Rio de Janeiro – prevista para março de 2019 – onde serão apreciadas as propostas da cidade e decididas as que serão levadas pelo estado para a Conferência Nacional.

Miniconferências em escolas

Em escala menor, mas igual em importância, estão as miniconferências promovidas pelos mobilizadores em escolas da região de Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Foi um projeto piloto com o objetivo de verificar, por meio de dinâmicas, quais temas mais preocupam os estudantes.

Quatro escolas da rede pública de ensino receberam a RNBE durante o mês de setembro: Escola Municipal Leocádia Torres, Escola Municipal Myrthes Wenzel, Escola Municipal Gastão Rangel e Escola Municipal Deborah Mendes de Moraes.

“Mesmo eles não nos conhecendo, puderam desabafar. Percebi que eles precisam de pessoas para conversar. Foi muito legal porque tudo o que tínhamos planejado deu certo e eles gostaram muito”, relatou, satisfeita, Ana Izabel. ‘A única coisa que não gostei foi o tempo curto”, completou.

Eles não só se sentiram à vontade, como perceberam que algumas situações nas quais estavam envolvidos significava violação de direitos, segundo observou Rosaria. Dentro do ciclo de violência, um dos tipos que mais preocupava os jovens, não por coincidência, era um praticado entre eles mesmos: o bullying.

“O que eu levo de lição é que devemos ter bastante paciência e não fazer bullying.  Agora, eu combato o bullying e ajudo muito os colegas que sofrem esse tipo de violência. Falo para não brigar, ‘passar por cima’ e superar”, contou o mobilizador Israel Fernandes, que estuda em um dos colégios onde teve miniconferência e confessa se emocionar com as histórias dos amigos agredidos.

O “bullying e a briga na escola” foi o tema que mais preocupou os estudantes, sendo citado por 25,7% do total de 456 estudantes. Em seguida, aparecem “gravidez na adolescência” (21,5%), “exploração sexual de crianças e adolescentes” (19,7%), “uso de álcool e drogas” (18,2%) e “participação de pais na vida dos filhos” (11%).

Os alunos e alunas também avaliaram a segurança, cultura e lazer, saúde, transporte, educação, alimentação e risco de sofrer racismo.

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Encuentro de Niñas, Niños y Adolescentes Subregión Sur

Presentes em bocas cheias de gírias, engajamento e sonhos, as línguas espanhola e portuguesa se entrelaçaram de um jeito tão bacana que nem se perceberam distintas. A responsável por unir essa complexa teia que envolve a juventude de países diferentes com realidades tão parecidas foi a Red Latinoamericana y caribeña por la defensa de los derechos de los niños, niñas y adolescentes (Redlamyc). A instituição é uma parceira latino-americana da RNBE e organizou o Encuentro de Niñas, Niños e Adolescentes Subregión Sur, realizado no Rio de Janeiro em novembro.

Com atividades de Educomunicação, assembleias e debates, os mais de 180 participantes pretendiam descobrir as preocupações comuns relativas ao universo infantojuvenil em cinco países: Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Ao final de quatro dias de encontro, foi redigida uma carta com recomendações sobre os problemas detectados endereçada aos respectivos governos.

Realizado em parceria com o Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (FNDCA), membro do grupo gestor da RNBE, o Encuentro foi algo novo e um desafio para os mobilizadores.

“Eu gostei bastante do interesse sobre participação das crianças e dos adolescentes, da ideia de tirar um tempo do lazer para falar sobre o nossos direitos. E gostei de ter conhecido pessoas de lugares diferentes, porque sempre é legal conhecer gente nova”, elogiou Ana Izabel, que saiu reflexiva a respeito da importância de se lutar por direitos.

Assim como Rebeca, que diz ter trocado vivências que levará para a vida toda, como a percepção de que, em outros países, com outros idiomas, podemos ver as mesmas situações, os mesmos tipos de preconceitos e violências.

Ao final de cada encontro, o cansaço dá lugar à sensação de ter mais uma experiência e amizades na bagagem. “O que eu levo desses eventos é que é preciso ouvir mais o adolescente. O que a gente fala não é mentira, é o que realmente está acontecendo e precisa ser mudado”, concluiu Rosária.

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