‘Você vai ser papai!’

Deu positivo! Esperado ou não, o anúncio em geral cria aquele “frio na barriga”. O fato de que agora vocês serão três ou mais traz uma série de novidades e inquietações.

João, Camila e Joaquim na barriga. Foto: Guilherme Taboada/Acervo Pessoal

A ideia de ser pai sempre esteve nos planos de João Paulo Moraes, 29 anos, professor de Educação Física, que afirma se espelhar no pai para ser presente na vida de Joaquim, de apenas cinco meses. “Eu e Camila havíamos combinado de ela parar de tomar a pílula, mas não tinha pressão. Quando soube fiquei super feliz, depois veio a gratidão de ter a permissão para ser pai. Nunca senti medo ou preocupação com o futuro”, revelou João, que conseguia acompanhar Camila em todos os pré-natais, mesmo trabalhando diariamente.

No caso do autor do best seller brasileiro “O Papai é Pop”, Marcos Piangers, 37, em vez da presença, foi a ausência que inspirou o seu engajamento. Pai de Anita, 12, e Aurora, 5, ele faz sucesso na Internet contando suas histórias cotidianas com as filhas.

Ana, Piangers, Anita e Aurora. Foto: Giselle Sauer/Divulgação

“Isso tem a ver com a minha falta de referência de pai, com meu background de ser filho de mãe solteira e de ter uma esposa que me ajudou a entender o que é a paternidade, o que é a criação de um filho e a importância que tem na vida de um homem”, explicou.  Assim como João, Piangers se envolveu desde o primeiro momento. “Eu fiquei muito feliz, eu queria realmente preencher a casa, ter uma casa cheia de gente, bagunça e risada, coisa que eu nunca tive”, contou.

A esposa Ana Cardoso – que também é escritora e assina o livro “A Mamãe é Rock” – foi quem ficou nervosa, como ele descreve melhor no áudio a seguir.

 

Responsabilidade feminina x ausência masculina x bebê na barriga

Um medo parecido com o de Ana, guardadas as proporções, fez parte da vida de Lorrayne Anjos, 19, que engravidou aos 15. “Eu entrei em pânico, mas o pai ficou super feliz.” Dias depois, a situação mudou quando o jovem, com quem ela se relacionava há quatro anos, sumiu. Ele só voltou aos sete meses de gestação. O pai de Lorena não dividia os gastos com a casa e mantinha uma relação instável com Lorrayne, que assumia as responsabilidades. “Chorava todos os dias com medo e me sentia sozinha. Tive pressão alta na gravidez, por causa do aborrecimento”, confessou a jovem, que só contou com a presença do pai da menina em dois pré natais.

O período foi conturbado também para Yanka Rosa, 20, mãe de Benjamin, de um ano e meio. “Quando ele soube, falou para abortar e sumiu. Meses depois, voltou arrependido, mas eu não quis saber mais”, disse. Yanka atualmente tem um companheiro que assumiu a paternidade do menino.

Lorrayne (à esq.) e Yanka (centro) em encontro do projeto Entrelaços. Foto: Grazielle Lenar/Fundação Xuxa Meneghel

Lorrayne e Yanka fazem parte do “Entrelaços”, um projeto da Fundação Xuxa Meneghel que busca estimular o fortalecimento de vínculo entre famílias e bebês. Para a coordenadora do “Entrelaços”, Amanda Vilella, o contato com o pai desde o ventre da mãe é essencial para o desenvolvimento do feto. “A partir dos cinco meses de gestação, o bebê já escuta tudo. É muito importante que eles estabeleçam uma relação por meio da fala, já que não existe o contato corporal que a mãe tem. Apostamos na potência da vida intrauterina. Por isso, ir às consultas e participar junto com a companheira é uma atitude fundamental”, destacou.

A psicóloga observa que o sistema público de saúde, e até mesmo o particular, não favorecem a participação paterna. “Não criam metodologias e protocolos de inserção desse pai no pré-natal afetivo, no momento da notícia da gravidez. Muitas vezes a menina vai sozinha. Na caderneta de saúde não há nenhum destaque à participação do homem nessa etapa e também, por exemplo, na visita ao pediatra. As pessoas acabam naturalizando que levar a criança ao médico não é papel do pai”, explicou Amanda Vilella.

Segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) existem cerca de quatro milhões de brasileiros sem o nome do pai na certidão. E mesmo com os registros, há incontáveis situações de abandono, negligência e violência.

Do coração

“Eu não tive a sensação de ouvir que seria pai, mas tive a emoção de quando o Vini me chamou de pai pela primeira vez”.  A lembrança do dia em que o filho de criação Vinícius, 9, o reconheceu como figura paterna toca de forma intensa Leandro Ziotto, 32, fundador do portal 4Daddy. O menino tinha três anos quando Leandro começou a se relacionar com a mãe dele. Mesmo separados hoje, Ziotto é o pai de Vinícius.

Leandro com a ex-esposa Mariana e Vinícius. Foto: Acervo pessoal

Inexperiente na época, ele buscou informações na Internet, mas sentiu falta de profundidade. “Não havia o olhar para o pai de fato, para se sentir acolhido. Vivemos numa cultura muito forte, que violenta mulheres diariamente, mas também castra homens. Assim nunca permitindo o homem demonstrar afeto e emoção. E foi nessa ausência de diálogo com os pais que tive a ideia do 4Daddy”, opinou.

Também por meio da Internet é que Fabrício Escandiuzzi, 41, extravasa sua paternidade, com o intuito de apoiar outros pais. O jornalista é editor do blog Diário do Papai e pai adotivo de Luísa, 3. Pela rede, ele encontrou informações e iniciativas importantes para encarar o novo papel.

“Eu e Gisele sempre pensamos em adotar. Em 2011, tentamos uma inseminação. Ao mesmo tempo, demos entrada ao processo de adoção. O tempo passou, a inseminação não deu certo após duas tentativas, acabou-se a paciência e o dinheiro e então, deixamos que o tempo cuidasse do assunto. Luísa chegou dois anos e meio depois, com apenas 20 dias de vida”, relatou.

Luísa recém-chegada ao novo lar. Foto: Acervo pessoal

O processo de adoção foi corrido e difícil, segundo o jornalista. “Para se ter uma ideia, nosso pré-natal, se é que podemos chamar assim, durou apenas três dias. Foi esse o tempo entre o dia que conhecemos a Luísa em um abrigo e o dia que a trouxemos para casa”, contou.

Inspirado no pai presente, Fabrício vê a paternidade “sem neuras”, sem se julgar “paizão” e como “algo natural”.

A coordenadora da Área de Paternidade e Cuidado do Promundo-BR, Milena Santos, explica que tanto o planejamento da gestação, quanto a própria decisão de adotar uma criança pressupõem disponibilidade afetiva e abertura para se envolver na criação.

“Por isso é tão importante discutirmos, quando falamos de paternidade, a inclusão dos homens nas políticas públicas relacionadas a Direitos Sexuais e Reprodutivos. Tendo em vista que temos, mundialmente falando, 3/4 dos contraceptivos no mundo sob responsabilidade das mulheres (SOWF, 2015), é fundamental incorporarmos os homens nos processos decisivos, nas pesquisas relacionadas à fertilidade e na ampla oferta de métodos contraceptivos voltados a eles. Dessa maneira, poderemos pensar na perspectiva da reprodução como responsabilidade social de homens e mulheres, e em um envolvimento dos homens com maior qualidade na paternidade”, destacou.

Dado o anúncio e passados gestação/processo de adoção, veremos como os papais lidam quando eles chegam! Fiquem ligados na próxima reportagem da série #Paternidade!

Leia:

Ela/ele nasceu 

…e agora está crescendo!

Paternidade para as próximas gerações

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