No começo houve desconfiança e timidez. Mas logo o “jeitinho brasileiro” conquistou o público de crianças e adolescentes paraguaios na última semana. A replicação da metodologia das rodas de diálogo da Rede Não Bata, Eduque (RNBE) na Global Infancia, em Assunção, teve momentos intensos de emoção e sintonia.
“Quando apresentamos a proposta a eles, fizemos brincadeiras, usamos a câmera e a nossa comunicação melhorou. Depois parecia que já nos conhecíamos há um mês, de tanto que rimos. Foi tão bom que a hora da despedida foi a mais difícil. Todos choramos muito”, contou a bolsista e integrante do projeto “De Jovem Pra Jovem”, Vitória Luiza, de 17 anos.
Companheiro de Vitória no projeto, Igor Gabriel também entrou literalmente na “dança” com os novos amigos e se surpreendeu com a desenvoltura em relação ao tema da educação sem violência. “Achei muito legal a espontaneidade das crianças, que falavam tão bem quanto os adultos, sem medo de errar. Simplesmente falavam”, destacou.
A diferença de idiomas não foi um empecilho e até ajudou a agregar, na visão do jovem de 17 anos: “por mais que as línguas sejam diferentes, as outras formas de dialogar unem as fronteiras. Para quebrar o clima inicial, surgiu a vontade de mostrar nosso jeito de dançar. De repente, eles começaram a se soltar. Foi muito ‘maneiro’”. Mas quem acha que a diversidade de línguas se restringia ao português e o espanhol se engana. Igor chegou a aprender algumas palavras em guarani com a nova colega Agustyna Esquivel (ver vídeo ao final).
Potencial latino-americano
O grupo paraguaio tem um diferencial na hora de se apresentar e de construir um projeto de roda adequado à realidade deles, segundo Vitória. “Eles adaptaram a apresentação a outras dinâmicas e, na hora de mostrar o projeto, eles foram bem rápidos, mostrando domínio e conhecimento da situação de crianças e jovens onde vivem”, explicou.
Veronica Samudio, 17 anos, era uma dessas adolescentes rápidas e classificou o encontro como “super importante”. “Aos poucos, devemos romper com o tabu da educação violenta. Devemos cuidar e divulgar a informação de que, com o diálogo, tudo é possível”, declarou.
A coordenadora da RNBE, Marcia Oliveira, vê nos jovens um grande potencial para expandir a luta contra os castigos físicos e humilhantes no país: “a participação juvenil lá é muito forte e eles têm muita vontade de fazer algo concreto pela mudança cultural no Paraguai”. O evento abre portas para a RNBE realizar o mesmo feito em outros países latinoamericanos.
‘Buen Trato’
O Paraguai aprovou a lei que proíbe os castigos físicos e humilhantes (Ley del Buen Trato – n° 5659) em setembro de 2016, e contou com a participação da Global Infancia em todo o processo de tramitação. Para a responsável pelo projeto “Buen Trato” da instituição, Luz Dominguez, os três dias de intercâmbio é um grande passo para reforçar o significado da lei entre os meninos e meninas.
“Essa é uma grande ferramenta que vai servir para continuar a promoção e a difusão do ‘bom trato’ com fins educativos, que não é uma atitude somente de adultos com crianças, mas também com pais, irmãos, amigos, construindo um entorno sem violência”, explicou Luz.
Participaram da replicação diversas organizações que atuam em defesa dos direitos infantojuvenis no Paraguai e são ligadas à Global Infancia, entre as quais Alda-Guarambaré, Aldeas Infantiles SOS Luque, Centro Comunitario Guillermo Campos y San Felipe, Cororé-Remansito, Itá, Comite Niños y Niñas Itauguá e Plan Internacional.
*Fotos: Ramón Romero (Agencia Global de Noticias), Thamires Guedes, Vitória Luiza, Igor Gabriel
Assista ao vídeo contando um pouco da experiência: