Desde a aprovação da Lei Menino Bernardo a Rede Não Bata, Eduque executa atividades em parceria com órgãos públicos ligados às áreas da saúde e assistência social, com o objetivo de sensibilizar o máximo de famílias atendidas nestes espaços. É uma forma de implementar a lei no Brasil, que vem sendo cobrado todos os anos a implementar políticas públicas que incentivem o uso da educação sem violência em lares, abrigos, escolas.
O mais recente trabalho em conjunto nestes moldes foi a realização da oficina “Educação Positiva”, envolvendo 110 profissionais que atuam no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo (SCFV) dos 47 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e 14 Centros de Referência Especializada de Assistência Assistência Social (Creas) da cidade do Rio de Janeiro.
Experiências e questionamentos
Integrante da primeira turma da oficina, a orientadora social do CRAS Zózimo Barroso do Amaral, no bairro de Madureira, Carolina Vianna, já havia desenvolvido uma atividade com 88 adolescentes com os quais trabalha, e compartilhou a experiência com os colegas. “Eu fiz o ‘varal das violências’ com eles e pedi para que escolhessem as situações que mais aconteciam dentro de suas casas, com os familiares mais próximos. Num primeiro momento, eu tomei um susto, porque praticamente todas as situações positivas ficaram no chão. Muitos são oprimidos, humilhados, desrespeitados, não são escutados”. Durante a oficina, a profissional pôde vivenciar o “varal das violências” e outras dinâmicas propostas pela Rede a partir de outra perspectiva, como participante.
Além de lembrar da infância e se emocionar, os profissionais compartilham questionamentos e inquietações ao longo das atividades. É o caso do orientador social do CRAS Sebastião Teodoro Filho, de Copacabana, Magno Napoleão. “Como é que eu vou dizer para um jovem de 15 a 17 anos que não pode bater, não pode humilhar, se muitos deles estão inseridos na violência no dia-a-dia, em casa, na escola, na rua?”
Comum a quem trabalha infância, adolescência e violência, a pergunta de Magno não tem uma resposta dada, porque a educação positiva não é uma “receita de bolo”, é um processo contínuo e construído em conjunto – adultos, crianças e adolescentes. “A Rede busca plantar a semente da não violência e tem, nestes parceiros, a certeza de que poderá germinar e render bons frutos. A ideia principal não é culpar as famílias e dizer o que as pessoas têm que fazer, mas sim mostrar que alternativas eficazes existem e que todas as famílias têm a capacidade de tornar a própria casa um ambiente amigável”, ressaltou a coordenadora da Rede, Marcia Oliveira.
Para o responsável pela parceria, o assistente social que acompanha o SCFV por meio do Núcleo de Proteção Básica da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro (SMASDH), Flávio Rêgo Fernandes, é uma oportunidade a ser aproveitada não apenas com o público externo, mas também nos bastidores do trabalho. “São experiências que a gente vai acumulando que potencializam o trabalho e oxigenam as equipes, porque trazem elementos que as fazem se repensar e repensar o trabalho. Estamos super felizes com as possibilidades de desdobramentos a partir das oficinas”, festejou Flávio.
A Rede Não Bata, Eduque e a SMASDH pretendem dar seguimento aos trabalhos nos próximos meses, com a replicação da metodologia das rodas de diálogo para os adolescentes do SCFV.