A turma do curso de extensão“Estilos parentais e a construção das relações pais-filhos e sociais pautadas no respeito e no diálogo”, realizado em parceria com a Capemisa Social no Rio de Janeiro, se reuniu na última semana para apresentar as ações relativas à metodologia da Rede Não Bata, Eduque (RNBE) desenvolvidas nas instituições participantes.
Representantes do Instituto Severa Romana, as assistentes sociais Marcia Casaes e Tânia de Paula fizeram uma roda de conversa com mulheres e a dinâmica “O que você faria se…”, em que um participante sorteia um papel contendo uma situação que, em geral, pais e cuidadores enfrentam com crianças e adolescentes. Ao final do encontro, deram um questionário às participantes.
“A maior parte das mulheres que responderam ao questionário têm dificuldade de estabelecer limites às crianças. Foram 35%”, contou Marcia.
Por outro lado, segundo Marcia, a “conversa franca e firme” é a solução mais usada para comportamentos inadequados entre mães, avós e tias do grupo. Na últimas posições, poucas pessoas revelaram recorrer a grito e ameaça e a castigos e conversas sobre as consequências (7%). Ninguém respondeu que usa chinelo, cinto e vara.
No abrigo Tereza de Jesus, o assunto despertou a curiosidade dos pais, que paravam para refletir ao avistar os cartazes da RNBE colados em pontos estratégicos, como refeitório, corredor, entrada e saída.
A educadora Ana Paula de Souza, que lida com crianças até dois anos, fez a dinâmica da árvore da equidade de gênero na última reunião de pais. Essa dinâmica trabalha a concepção sobre que é ser menino e menina. “Apesar de às vezes ser difícil trazer coisas novas para eles, houve curiosidade e interesse em participar das próximas atividades que estamos organizando”, relatou.
A assistente social Cátia Alina levou o trabalho para a igreja que frequenta, a Nova Vida. “Comecei a introduzir o tema com o grupo de ‘juniores’, que são os jovens e futuros pais”, disse.
Lado pessoal
Tamires Rodrigues, assistente social da Capemisa, resolveu contar como o assunto chegou à sua casa e como tem mudado as relações por lá. Ela tem dois filhos, um ainda criança e outro, na adolescência. “Tentar fazer acordos com adolescente, criança e com a família, principalmente com os mais velhos, é um desafio. Falar que a ‘palmadinha não dói’ não é fácil porque você tem que explicar, convencer e nem sempre eles conseguem entender”, desabafou Tamires.
E foi no âmbito pessoal que a etapa seguinte do encontro tocou as participantes. A vivência prática da roda de diálogo com os jovens da RNBE mexeu com Cátia Alina. No decorrer das dinâmicas, ela recordou como foi educada e abriu o coração.
“Fui vítima de muita violência. Não apenas eu, mas minha mãe também. Eu tenho apenas 40% de audição em um ouvido e levei muita pancada na cabeça. Quando fui mãe, não reproduzi com meus filhos, não queria de jeito nenhum que eles sofressem o que sofri, sentissem o que senti. Tudo era na base da conversa, explicando tudo. Algumas pessoas até estranhavam o tanto de explicação que eu dava”, confessou.
Quando a jovem mobilizadora Rebeca Anjos, 13 anos, citou na roda os efeitos da violência psicológica, uma das participantes, muito emocionada, lembrou como educou a filha. “Sempre dizia que ela tinha que fazer mais e melhor, não depender nunca de homem para nada na vida. Hoje, minha filha tem transtornos e eu me sinto culpada”, desabafou.
Nesse momento, a solidariedade se manifestou em palavras e gestos de outras participantes e dos mediadores. Sob forte emoção, o curso de extensão foi encerrado, na certeza de que plantou mais uma semente por uma cultura de paz e pela não violência no processo educativo.
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