Aprendizados, experiências e mais descobertas. O desenvolvimento de uma criança é a etapa em que os pais ou cuidadores precisam acompanhar de perto e ter atitudes específicas em cada fase.
Quando se fala em homens e mulheres, pais com mães, filhos e filhas, várias questões vêm à tona. Será que ele é companheiro e divide as tarefas com a mãe das crianças? Será que proíbe os filhos de terem determinadas escolhas e comportamentos levando em conta o gênero?
No caso do pai de Luísa, 3 anos, Fabrício Escandiuzzi, 41, a divisão de tarefas é equilibrada. Enquanto a esposa Gisele trabalha fora, é ele quem dá banho na filha, faz a comida, leva a menina para passear, ao médico e à creche. “Faço comida para todos, limpo a casa também. Gisele reclama que minha limpeza não fica do jeito que ela gosta, mas estou evoluindo (risos)”, brincou.
Na casa de Marcos Piangers, 37, a família se comporta como um time. “Todo mundo tá junto dentro desse time. Não é essa coisa de ‘vamos dividir 50% para cada um’, é uma questão de 100% para cada um”, contou. Saiba como é a rotina dele com as filhas nesse áudio:
Muito agarrado com Alice, 3, Marcelo Vilar, 49, também cuida da filha. No momento sem trabalhar, devido à doença grave que teve, ele passa o dia com os filhos. Em sua casa existem mais outros dois filhos homens, mas não há diferença nas brincadeiras. “Ela e o meu filho do meio Caio brincam muito juntos, com as mesmas coisas, boneca, jogo, correm, pulam. Até exageram”, disse.
Fabrício brinca de boneca, joga futebol, inventa e encena historinhas no jardim de casa com a filha. Às vezes, em meio às brincadeiras, Luísa surpreende o pai. “Dia desses, Luísa falou que iria ‘se casar com um amiguinho da creche. Eu disse que ela ainda era criança. A resposta foi certeira: ‘mas o Oliver (o amiguinho) também é criança’”, lembrou, contando que o questionamento surgiu a partir das encenações de
casamentos em festas juninas. “Mas acho que tem a idade certa, claro”, completou.
Na mesma situação, sendo pai de meninas, Piangers tem muito claro em mente o seu papel. “Não tenho ciúmes. Minha filha não é minha, ela é dela mesma. Eu estou aqui para ser um tutor e prepará-la para as loucuras da vida, para os relacionamentos que ela vai ter”, afirmou de forma enfática.
Ouça o áudio a seguir com o depoimento completo:
Geração conectada
Além da igualdade de gênero na infância, um assunto muito discutido quando se fala em educação atualmente é o uso das novas tecnologias. Parte de uma geração digitalizada, os pequenos ficam antenados nos celulares e tablets desde muito cedo. Cabe aos pais estabelecer os limites.
Téo Cordeiro não tem TV em casa e negocia com o filho mais velho Miguel, 4, o uso do computador. “Falo para ele: ‘olha você vai assistir agora dois desenhos… Vamos desligar agora’. Essa coisa da internet, da tecnologia é algo que preocupa muito a mim e a mãe dele. Tentamos ofertar o máximo de experiências presenciais possíveis e diminuir o uso dessa tecnologia de uma forma geral”, afirmou.
Apesar da comodidade que o uso possa trazer aos pais nos momentos de entretenimento dos filhos, Fabrício também está atento e considera as ferramentas “tentadoras”, mas “perigosas”. Em meio aos desafios, ele confessa ter dificuldades para ser mais firme com Luísa quando há comportamentos inadequados. “De maneira geral, dizemos que ‘quem faz birra não ganha nada’, e tratamos de incentivar o que chamamos de ‘combinações’: ‘apenas um desenho’, ‘depois disso vamos dormir’ etc”, exemplificou.
Educar… sem violência
Marcelo e Téo partilham da mesma dificuldade: lidar com a agressividade dos filhos Caio e Miguel, respectivamente. O primeiro
assume ser “explosivo” com o filho; o segundo reconhece que a tolerância diminui ao lidar com a pirraça depois de um dia cheio.
“Hoje eu tenho adotado uma postura mais rígida, no sentido de colocar alguns limites que o mais velho ainda não tinha tido acesso. Tipo, ‘olha, você fez essa coisa de errado, isso não tá certo. Senta aqui e vamos pensar nesse aspecto’. O que não se cogita, e já se tem estudos muito mais do que comprovados sobre isso, é que a violência física e a violência verbal não têm eficácia nenhuma”, explicou Téo.
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Marcos Piangers aposta na criatividade para auxiliar no desenvolvimento de Aurora, 5, e Anita, 12. “Aqui em casa, a gente não costuma comprar os brinquedos, os jogos, a gente faz os nossos próprios jogos. A gente desenha muito, escreve, brinca”, contou.
Ele nos explica como é a educação das filhas no áudio a seguir. Ouça:
A socióloga e coordenadora do Área de Paternidade e Cuidado do Promundo-BR, Milena Santos, afirma que o exercício da paternidade é um meio para desconstruir normas sociais, trabalhar a igualdade de gênero e pensar em formas de educação com respeito e sem violência.
“Conversando sobre a divisão de tarefas domésticas, incentivando os homens a desenvolverem habilidades que a eles são culturalmente negadas, como o carinho, o cuidado e as relações baseadas em afeto, estamos mexendo no cerne da educação patriarcal, que ainda é muito forte”, explicou.
Segundo Milena, com homens envolvidos, as “mulheres sentem-se mais apoiadas para voltarem ao trabalho, as crianças se desenvolvem melhor com mais de um exemplo de cuidado em casa, os homens se declaram mais felizes e o futuro da sociedade estará ancorado em princípios mais igualitários”.
Será que estamos passando por uma mudança cultural em relação à participação dos homens na criação e nos cuidados das crianças? Fique atento à próxima reportagem da série #Paternidade e saiba mais sobre iniciativas para estimular e apoiar pais!
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